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Calça rasgada de tanto cair e sapato furado de tanto andar

Um caro colega — físico teórico, professor, pesquisador, orientador em uma universidade federal — escreve sobre a sua visão das questões de mobilidade urbana, e compartilha, em seu blog, suas experiências e reflexões como pedestre e como usuário de transporte público na região metropolitana de São Paulo:

Calça rasgada de tanto cair e sapato furado de tanto andar – Crônicas de um deficiente usuário do transporte público da região metropolitana de São Paulo

http://andantecompolio.blogspot.com.br/

Não saia mais de Moema?!?!?!

Não posso deixar de pensar no quanto uma recente campanha publicitária que está sendo veiculada, de algo que se denomina “Moema Tem”, coloca valores que são completamente opostos ao espírito de busca da cidadania-na-cidade — defendido por este blog — espirito que, a propósito, vem se manifestando fortemente na atual onda de mobilização popular. São vários spots, divulgados massivamente já faz algum tempo no rádio (ouvi na Band news fm, mas pode estar em outras). Quando ouvi o primeiro, pensei ter ouvido mal, ou no mínimo esperaria que o absurdo fosse corrigido nos próximos. Mas outros spots vieram, e todos terminando invariavelmente com a frase: “Acesse — e não saia mais de Moema!“. Você, leitor/a, talvez já tenha ouvido a moça cantando e terminando com essa frase.

Ora, essa é uma maneira terrível de pensar. Ela remete a uma visão de cidade, de espaço urbano, de vida, que contribui para o círculo vicioso trerrível em que se encontra São Paulo. A mensagem que está sendo passada por eles é, mais ou menos, esta:

Vamos, isole-se. Fique ilhado, no seu vale encantado, no pedacinho de Bélgica encravado dentro de São Paulo, moderno e descolado, todo com ar condicionado, blindado por sistemas de segurança. E aí não vai precisar sair e ter contato com essa gente feia e pobre que está em volta, nessa cidade feia, nessa enorme Índia que constitui grande parte da cidade, que, infelizmente — ora, que desagradável! — não é toda igual ao seu bairro. Porque você não precisa da cidade, você só precisa de Moema (e talvez do aeroporto). O resto da cidade que se lasque. Você não precisa viver a cidade. Isole-se, que você vai viver melhor!

Claro que os autores dessa aberração provavelmente irão responder que o problema que têm em mente é o trânsito, etc. Mas, conhecendo a maneira de pensar da maior parte das elites paulistanas, penso que minha hipótese interpretativa não está muito longe da verdade. Elites essas que, seja por ação, seja por omissão, deixaram enormes regiões da cidade virarem terra de ninguém, um imenso corredor de passagem, abandonado e deteriorado, que serve apenas para separar o condomínio fechado do shopping center.

Muitas elites não gostam da cidade como um todo, desejam manter o espaço urbano segregado, com os pobres devidamente relegados ao “seu lugar”. Assim, grandes regiões se deterioram, por descaso do poder público, somado às pressões do capital imobiliário — que viola de todas as maneiras as regiões não regulamentadas, e força o governo a concentrar os recursos nas regiões ditas “nobres” — ao que se soma, finalmente, à falta de conscientização e organização dos moradores. Aí, as elites completam o círculo vicioso; dizem: “agora é que não quero mesmo ter mais nada a ver com aquilo ali! É feio, sujo, perigoso, tem enchente, não tem nada ‘legal’ para comprar, não tem lugares ‘legais’ para ir…”

E a deterioração torna-se irreversível…

Leitor/a, faça o contrário do que diz a campanha publicitária. Saia de Moema. Viva a cidade. Interaja com a cidade. Defenda a cidade. Cuide da cidade. Você é acima de tudo paulistano(a), brasileiro(a)!

(P.S. É claro que gosto do meu bairro, vejo qualidades nele. Claro que existem lugares e regiões e trajetos dispostos ao longo da cidade que me agradam particularmente. Mas não vejo a vida no bairro, a fruição do bairro, como incompatível com o cuidar da cidade como um todo. Além disso, gosto de garimpar e descobrir lugares inesperados e surpeeendentes fora da minha região.)

Raquel Rolnik: as manifestações e o direito à cidade

Comentário de Raquel Rolnik (já de há muito respeitada por este blog) sobre as manifestações:

http://raquelrolnik.wordpress.com/2013/06/14/em-torno-do-direito-de-ir-e-vir-existe-dialogo-em-sp/#comments

Dia 17/06

Relato minuto a minuto das manifestações de segunda-feira, dia 17/06/2013:

http://blogs.estadao.com.br/estadao-urgente/manifestantes-fazem-quinto-ato-contra-o-aumento-da-tarifa-de-onibus-em-sao-paulo/

Nova máquina de caminhar…

Finalmente estou com a minha nova máquina de caminhar pela cidade e pelas trilhas… Uma Salomon Wings Sky GTX:

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Apesar de muito leve, ela é muito estruturada e, por isso, protege o pé como uma couraça flexível. O cano é bem alto. Ela é extremamente estável e dá grande segurança — qualidades que valorizo muito para caminhar por terrenos irregulares, como as calçadas despedaçadas que encontramos em boa parte da Região Metropolitana de São Paulo.

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Em todo caso, a Wings Sky GTX — talvez justamente por ser muito robusta — parece-me ligeiramente menos sensível aos detalhes do terreno do que a minha Salomon anterior, a Misson GTX. Nisso, ela acaba lembrando alguns modelos da North Face.

Aos poucos, tenho verificado que ela se adapta bem à minha pisada, que é de tipo pronado. Em breve verei como ela se comporta em trilhas, mas tenho o palpite de que terá um bom desempenho também ali.

O ciclista e o pedestre são “problemas” para os carros?!!?!!?

dsp_04É decepcionante — embora não chegue a ser supreendente — a forma pela qual grande parte da mídia e da sociedade ainda trata ciclistas e pedestres — isto é, como cidadãos de segunda classe, sem tirar nem pôr. Por exemplo, este destaque do Diário de São Paulo do dia 26/01/13 é de doer: segundo o jornal, as bicicletas “levaram o caos” à cidade…

Na matéria interna, há algumas fotos retratando ciclistas basicamente como seres pitorescos e exóticos, entremeados com texto que contém outros disparates, retratando a manifestação dos ciclistas como a grande culpada de congestionar o trânsito naquele dia.

Abaixo, a capa completa de edição:

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Em vez de ironizar os ciclistas, fazendo cavalo de batalha do tempo que eles obrigaram os carros a esperar — e ignorando o fato de que, diariamente, milhões de pessoas em SP têm sua mobilidade travada pelos veículos automotores — o Diário de S. Paulo perdeu uma oportunidade de ouro. Uma oportunidade de fazer uma matéria mais lúcida e inteligente, desconstruindo estereótipos e chamando a atenção para os problemas reais — em particular, para o fato de que vivemos em uma cidade conflagrada, irracional e truculenta no que tange ao direito à mobilidade.

Já ocorreu a toda essa gente que os carros é que constituem um grande problema para a circulação de pedestres e ciclistas?

Exemplos do desrespeito? São onipresentes. Com relação ao pedestre: basta caminhar a pé pela cidade, a qualquer dia, a qualquer hora. O que se vê é um verdadeiro show de horrores:

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As duas primeiras fotos acima foram tiradas em São Paulo, as outras em Santo André. Há muitas mais no meu arquivo — um triste retrato de como a Grande São Paulo e o ABC Paulista formam um ambiente hostil, no qual a cidadania é sistematicamente solapada, tanto no que respeita aos pedestres quanto aos ciclistas.

Nos mais de quatro anos em que tenho “teimado” em caminhar várias regiões da Grande SP, não me lembro de nenhuma caminhada — isso mesmo, nenhuma — não é apenas força de expressão — em que não tenha me deparado com alguma forma de desrespeito ao pedestre, por parte de carros e motos, seja nas calçadas, nas faixas de travessia, nas praças, nos shoppings…

Para que fique claro o paradigma que defendo (e não somente eu, mas também muita gente lúcida e civilizada):

A cidade e a rua pertencem ao pedestre; o pedestre concede ao carro o direito de utilizá-las, contanto que este respeite determinadas condições.

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O adesivo na bike acima resume tudo!

Duas livrarias incríveis

Hoje eu gostaria de escrever (e também postar algumas fotos) sobre duas livrarias incríveis e muito especiais — cada uma em seu estilo — que tive o privilégio de conhecer: uma na Cidade do México e uma em Buenos Aires.

1 – Cafebrería El Péndulo – Cidade do México

Um verdadeiro paraíso. Para passar horas. Vários andares (parecem não ter fim), reunindo tudo que há de mais legal para nosotros: começando por uma livraria espetacular, sebo, café, loja de discos…

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… continuando com um restaurante super confortável (no alto), mais bar (tem excelentes mezcales e tequilas, e também serve ótimos tacos)…

… e mais: loja de discos, papelaria, revistaria e loja de presentes (que são aliás mais inteligentes, criativos e baratos do que em qualquer, digamos, Imaginarium da vida)…

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Aqui está o pêndulo propriamente dito — inspirado no pêndulo de Foucault — que dá nome ao lugar:

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Aliás, o café da manhã mais saboroso que tomei na vida foi aí, incluindo um “panqué” que era uma coisa do outro mundo.

Achei na El Péndulo uns discos difíceis de achar, de composições do mexicano Manuel Ponce (um dos meus preferidos entre os latinoamericanos do século XX), com o violonista Francisco Gil — sobre os quais pretendo escrever no meu outro blog Usina de Escuta:

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Na livraria, encontrei um Wittgenstein (a Gramática Filosófica, trad. de Luiz Felipe Segura, ed. bilíngue da UNAM), as obras completas de Sor Juana Inés de la Cruz (ed. pela Fondo de Cultura Económica) e mais alguns de Octavio Paz.

2 – Librería Alberto Casares – Buenos Aires

Todas as vezes que fui a Buenos Aires bati ponto aqui. Uma livraria digna de Borges. O silêncio e a quietude, o cheiro dos livros — que é um verdadeiro perfume — a luminosidade, a sensação de paz e isolamento do burburinho da rua estreita e movimentada (fica na Calle Suipacha 521)… Tudo isso nos transporta, de imediato, como que para um outro mundo.

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Tem raridades, primeiras edições, usados e, claro, livros novos. O próprio dono costuma nos atender, tratando a todos com a maior atenção. Também encontram-se mapas, gravuras e fotografias originais, e ainda partituras.

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Ali encontrei, por exemplo, várias edições diferentes de Cortázar e Borges (cada uma tem seu encanto), as Obras de Oliverio Girondo (ed. Losada), um raro Biología y medicina del siglo XIX, de Desiderio Papp e José Babini (Espasa Calpe, 1961), e a Historia de las ideas  en la Argentina – Diez lecciones iniciales, 1810-1980 de Oscar Terán, entre outros…

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Buenos Aires, como se sabe, é uma cidade fortíssima em livrarias. A concorrência é dura pelo coração de qualquer bibliófilo. Mas eu diria que gosto da Casares até mais do que da famosa El Ateneo, por exemplo…

Duas telas de Escher… reais

De vez em quando, como se sabe, a vida imita a arte. Aqui estão dois singelos exemplos, capturados ao acaso. Primeiro, uma cena fotografada na obra ao lado de casa, em Santo André. Você nota alguma coisa estranha?

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Só para refrescar a memória, aqui está a famosa “Waterfall” de M. C. Escher:

M. C. Escher, "Waterfall", fonte:  wikipaintings

Segundo exemplo: aqui temos uma cena fotografada após a chuva, durante uma de minhas caminhadas, também em Sto. André:

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E aqui, para comparação, a obra de Escher, “Puddle”:

M. C. Escher, "Puddle", fonte: dana-mad.ru

Caminhando com Heisenberg em Helgoland

Foto: Pegasus2 / Sioux, fonte: Wikimedia CommonsEsta é uma caminhada que eu gostaria de fazer!

Na ilha de Helgoland, onde o jovem Werner Heisenberg formulou em 1925 as idéias centrais que logo iria desenvolver no histórico artigo “Sobre uma reinterpretação quântica das relações cinemáticas e dinâmicas” — documento fundador da mecânica quântica — enquanto caminhava à beira das falésias, convalescia da febre do feno e lia Goethe…

(Aqui, uma tradução em inglês do artigo de Heisenberg, in: Van der Waerden (ed), Sources of quantum mechanics || e aqui, o original em alemão)

2855575587_0e8f28fc1dAqui está uma foto (tirada por Pete Shacky) da placa comemorativa instalada em Helgoland pelo Instituto Max Planck e pela Sociedade Alemã de Física.

Teotihuacan, o design da água

Atraves_1_1983_Martins_FontesUm texto bem especulativo de Décio Pignatari (1927-2012) sobre Teotihuacan (da qual já falei neste blog), publicado no número 1(1983) da revista Através — ainda na edição da Martins Fontes; depois este título passaria a sair pela Duas Cidades.

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