É decepcionante — embora não chegue a ser supreendente — a forma pela qual grande parte da mídia e da sociedade ainda trata ciclistas e pedestres — isto é, como cidadãos de segunda classe, sem tirar nem pôr. Por exemplo, este destaque do Diário de São Paulo do dia 26/01/13 é de doer: segundo o jornal, as bicicletas “levaram o caos” à cidade…
Na matéria interna, há algumas fotos retratando ciclistas basicamente como seres pitorescos e exóticos, entremeados com texto que contém outros disparates, retratando a manifestação dos ciclistas como a grande culpada de congestionar o trânsito naquele dia.
Abaixo, a capa completa de edição:
Em vez de ironizar os ciclistas, fazendo cavalo de batalha do tempo que eles obrigaram os carros a esperar — e ignorando o fato de que, diariamente, milhões de pessoas em SP têm sua mobilidade travada pelos veículos automotores — o Diário de S. Paulo perdeu uma oportunidade de ouro. Uma oportunidade de fazer uma matéria mais lúcida e inteligente, desconstruindo estereótipos e chamando a atenção para os problemas reais — em particular, para o fato de que vivemos em uma cidade conflagrada, irracional e truculenta no que tange ao direito à mobilidade.
Já ocorreu a toda essa gente que os carros é que constituem um grande problema para a circulação de pedestres e ciclistas?
Exemplos do desrespeito? São onipresentes. Com relação ao pedestre: basta caminhar a pé pela cidade, a qualquer dia, a qualquer hora. O que se vê é um verdadeiro show de horrores:
As duas primeiras fotos acima foram tiradas em São Paulo, as outras em Santo André. Há muitas mais no meu arquivo — um triste retrato de como a Grande São Paulo e o ABC Paulista formam um ambiente hostil, no qual a cidadania é sistematicamente solapada, tanto no que respeita aos pedestres quanto aos ciclistas.
Nos mais de quatro anos em que tenho “teimado” em caminhar várias regiões da Grande SP, não me lembro de nenhuma caminhada — isso mesmo, nenhuma — não é apenas força de expressão — em que não tenha me deparado com alguma forma de desrespeito ao pedestre, por parte de carros e motos, seja nas calçadas, nas faixas de travessia, nas praças, nos shoppings…
Para que fique claro o paradigma que defendo (e não somente eu, mas também muita gente lúcida e civilizada):
A cidade e a rua pertencem ao pedestre; o pedestre concede ao carro o direito de utilizá-las, contanto que este respeite determinadas condições.
O adesivo na bike acima resume tudo!